A moça carregava nas costas poucos anos de vida, mas sua alma era idosa, vivida, e tinha necessidade de dividir com o mundo seu vocabulário de indignações. Não podia, não estava certo, ela precisava impedir. Aí debruçava-se sobre a janela e, com o alto-falante, gritava suas verdades; o vento, então, levava para longe, desfazia-as e transformava-as em pó feito poeira atrás de mobília antiga. Seu corpo era pequeno demais para abrigar sentimentos e confusões tão extravagantes, então como cabia, como continha? Não continha, simplesmente transbordava, alagava, por isso deixava na pele da menina marcas de frustrações. A moça lia, anotava, metamorfoseava-se em aprendiz de poetisa, fechava os olhos e flutuava para além das dimensões. Mesmo tendo de viver numa sociedade penosa, ela sorria, criava suas metáforas, mantinha-se em paz consigo mesma e sorria com mais vontade. Aí respirava, encontrava forças, gritava um pouco mais alto, e quando todos empurravam para ela bengalas e cadeira de rodas, recusava, pois gostava de andar à sua forma engraçada e capenga.
domingo, 6 de novembro de 2011
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